A Igreja tem que ficar calada quando o assunto é sexo?
Sei que essa simples pergunta vai desagradar muita gente. Mas vamos analisar a questão de forma racional, sem paixões exacerbadas e sem fanatismos.
Há poucos dias eu assisti a um vídeo onde um padre reage às críticas ao celibato dizendo que isso não é da conta de quem não é católico. E a mensagem que ele passava era a de que os padres devem ser deixados em paz com relação a essa questão de sexo. Isto porque, segundo tentou justificar, não se vê nenhum padre fazendo passeatas em protesto por não poderem se casar e por se manterem afastados do sexo, supostamente.
Sim, acrescentamos supostamente porque todos sabemos o grande número de escândalos que frequentemente pipocam envolvendo a Igreja e casos de sexo entre religiosos e também entre esses religiosos e os seguidores da Igreja. Basta lembrar os escândalos em relação aos padres pedófilos para saber que isso é uma realidade e não uma invenção.
Questão de coerência
Há uma grande contradição na fala desse padre ao dizer que o celibato, ou seja, a determinação de renunciarem à vida sexual, diz respeito apenas aos padres e à Igreja Católica. Se é assim, então, de fato, a Igreja tem que ficar calada quando o assunto é sexo.
Trata-se de uma questão de coerência. Ora, todo mundo sabe que, para conhecer bem um assunto e falar sobre ele, é preciso ter conhecimento tanto teórico quanto prático. Então, se os padres, bispos e todo o clero não praticam, algo que pouca gente acredita que seja verdade, devem portanto ficar de bico calado quando o tema é sexualidade. Assim, deixam de falar bobagens e de manifestar pensamentos retrógrados sobre um assunto que eles não entendem. O que confirma, mais uma vez, que a Igreja tem que ficar calada quando o assunto é sexo
Manifestações obscenas
Não estamos pregando uma explosão de imoralidades, mas quem conhece pelo menos um pouco da história da Humanidade sabe que a obscenidade acompanha a trajetória da Igreja ao longo dos séculos e que a essa obscenidade se juntou um subproduto bem pernicioso à humanidade: a hipocrisia.
Não são poucos os relatos históricos de fetos encontrados nos porões de conventos, comprovando a gravidez de freiras supostamente castas em fidelidade a Cristo. E também não se pode cobrir com mantos clericais os desenhos estampados em templos religiosos com figuras explícitas que deveriam causar espanto aos que hoje dizem se escandalizar com exposições nos museus de arte brasileiros.
As razões do celibato
O celibato, que nem sempre existiu, é explicado em parte por dogmas religiosos. Em parte, repetimos, porque a questão econômica sempre está por traz do bem e do mal. A Igreja sabe que, sem o celibato, viria o casamento dos padres e, em consequência, a constituição de uma família, com mulher e filhos. Como não colocar em risco o ouro reluzente das igrejas com tais desdobramentos dispendiosos?
A Igreja vive de dogmas que são cuidadosamente preservados ao longo dos séculos. São os mesmos dogmas que fazem surgir um filho de uma mãe virgem e que fizeram cristãos serem condenados à fogueira. E não é mistério para ninguém que papas, quando muito revolucionários em oposição a pensamentos retrógrados, são comumente marginalizados pelo clero ultraconservador. O mesmo clero que, por sinal, acobertou a pedofilia.
Sexo não significa sofrimento
É verdade que a sexualidade tem que ser vista com respeito. Que comportamentos desrespeitosos à mulher, muitos de caráter agressivo e até mesmo criminoso, têm que ser rigorosamente combatidos. Mas, se o sexo praticado com violência ou desrespeito à mulher tem que ser severamente coibido e, se for o caso, devidamente punido, não é menos verdade que o pensamento retrógrado e hipócrita faz um grande mal à humanidade.
Sabemos, como já foi dito, que essa manifestação vai desagradar muita gente. Mas é indispensável alertar para os sofrimentos causados e para os crimes praticados como resultado de atitudes repressivas que, por sua vez, acabam por propagar uma visão de sexo sempre identificada como censurável, reprovável, perniciosa ou pecaminosa.
A sexualidade sempre tem que ser encarada como aquilo que ela realmente é: uma atitude sadia que gera a vida e que, portanto, não pode estar associada a sofrimento, tristeza e desalento. E muito menos a desprazer, como querem impor os que teimam em identificar sexualidade como algo ruim ou pecaminoso. Não deve, também, estar obrigatoriamente associada a reprodução, como se prazer fosse pecado.
Igreja tem que ficar calada quando o assunto é sexo
Está na hora de os setores retrógrados deixarem de produzir tanto mal com suas hipocrisias e repressões. Até do ponto de vista científico e da literatura médica a prática do sexo é relacionada não só à vida como ao bem estar e ao pressuposto de boa saúde.
Que os padres não queiram reagir contra o celibato e dogmas que conferem à sexualidade a noção de pecado, pois então que mantenham isso entre eles. Não espalhem a toda a sociedade o obscurantismo dos porões onde freiras copulavam com sacerdotes e se diziam castas e fiéis a Cristo pouco depois de praticarem aborto em nome dessa castidade respaldada apenas pela mentira e pela hipocrisia do ambiente lúbrico dos porões nos subterrâneos de templos pretensamente religiosos.
Religião como sinônimo de repressão?
Já afirmamos neste site e em nosso canal no YouTube e voltamos a dizer: cada um tem o direito de ter sua religião. Mas não tem o direito de usar sua religião para colocar minhoca na cabeça de ninguém.
Amor acima de tudo. Acima inclusive dos dogmas que lhe são impostos. E que diminuem ou até sufocam a sua capacidade de se sentir realmente feliz.
Portanto, a conclusão é inevitável: a Igreja tem que ficar calada quando o assunto é sexo.
Leia AQUI artigo sobre obscenidades nas igrejas
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