No canal Recado Secreto o título deste vídeo deveria ter sido: Se você tem medo de sexo, então não assista. Mas a palavra sexo, em pleno século 21, ainda assusta muita gente. Inclusive o YouTube, cujos robozinhos detectam logo a palavra no título e querem proibir ou limitar a exibição do vídeo. Agora resolvemos mudar para: Se tem medo de sexo não leia nem assista. Porque aqui no site sabemos que sexualidade não é motivo nenhum de medo.
No canal não adiantou nada a tentativa de amenizar. Embora o vídeo tenha como objetivo rejeitar a homofobia e as reações retrógradas em relação à homossexualidade, o YouTube ainda assim impôs limitações ao vídeo. Mais uma falta de entendimento do nosso lema: sexualidade, comportamento e relacionamento em alto nível.
Se tem medo de sexo não leia nem assista
Ainda assim, a troca de título tem tudo a ver. Isto porque o casamento de Elisa e Marcela leva a reflexões que vão muito além da questão da homossexualidade (no caso, a homossexualidade feminina), remetendo a indagações sobre as quais todo mundo deveria refletir.
Elisa y Marcela é um filme exibido pela Netflix que conta a história, baseada em fatos reais, de duas jovens que se apaixonam. O ano é 1901. E, imagine só, se isso assusta até hoje, dá para imaginar o que elas passaram no início do século passado. Será que dá? Para saber, é preciso você assistir ao filme. Mas se tem medo de sexo não leia nem assista. Ou melhor: leia e assista. É capaz de você perder o medo.
Não adiantou se vestir de homem
Elisa se disfarça de homem e Marcela acaba tendo um filho de um homem que a assediava, na tentativa dar mais realismo ao casamento. De nada adiantou: as duas chegaram a ser presas, tiveram sua casa apedrejada, foram perseguidas por turbas enfurecidas.
E só não tiveram um destino ainda mais trágico devido à alma piedosa de uma autoridade que resolveu dar apoio a elas para que não fossem mais maltratadas ainda ou se tornassem vítimas de uma tragédia.
Ainda assim, Marcela teve que abandonar a filha, na decisão mais difícil de sua vida. E também pronunciou a frase mais significativa e representativa do drama que estava vivendo, ao indagar ao grande número de pessoas que batiam à sua porta, de forma agressiva, para intimidá-la e ameaça-la, o que eles tinham a ver com a vida dela. Por que se intrometiam. Porque vocês não nos deixam viver nossa vida?
Se tem medo de sexo é a questão?
Esse é o ponto central que persiste até hoje: por que a sexualidade dos outros, ou, mais do que isso, a vida alheia, incomoda tanto?
E é fundamental frisar que isso não está limitado à homossexualidade, mas na verdade extrapola outros limites e acaba gerando conflitos e tragédias na sociedade.
A questão é: se isso aconteceu de forma tão brutal em 1901, será que a sociedade, no mundo todo, não evoluiu até hoje, em pleno ano 2019 do século 21, passados 118 anos desse acontecimento em que duas jovens foram permanentemente perseguidas e tiveram que abdicar da própria felicidade para continuarem vivas?
Fanáticos e fofoqueiros
Evidentemente, a questão sexual ainda é mais complexa e parece se revigorar permanentemente, ano após ano. Especialmente em razão da influência de correntes repressoras e retrógradas, de dogmas religiosos que criam fantasias e disseminam sentimentos de pecado, de culpa e de arrependimento.
Ou de fanáticos, fofoqueiros e intrusos que teimam em se meter na vida alheia, até mesmo quando o tema sexualidade não se faz presente.
Você tem medo do sexo dos outros?
Do ponto de vista da sexualidade, o canal e o site Recado Secreto, que são direcionados a heterossexuais, têm adotado a posição de questionar em que a vida alheia interfere em sua vida. Afeta a sua masculinidade ou a sua feminilidade? Você sente medo de se tornar menos macho ou menos fêmea? Abala tanto assim a sua convicção quanto à sua própria sexualidade?
Ora, não é preciso que as pessoas achem a relação homossexual bonita, agradável, atraente, charmosa ou seja qual for o adjetivo que lhe queiram dar.
A homossexualidade existe e consiste na atração pelo mesmo sexo. Se você não sente essa atração e se incomoda tanto, a ponto de interferir, maltratar, surrar e até matar quem teria, supostamente, uma característica sexual diferente da sua, então deve buscar a origem dessa aversão, que tantas vezes se torna assassina em sociedade.
Do que você tem medo?
Diga a si mesmo ou a si mesma, com convicção absoluta, se for possível: eu tenho certeza de que a minha atração é pelo sexo oposto. Jamais eu sinto atração por pessoas do mesmo sexo.
Se você é capaz de dizer isso, então não tem que se intrometer na vida alheia. Pode até ignorar os que são diferentes de você, se forem mesmo, pode até não querer amizade com eles ou com elas. Porque compete a cada um escolher com quem quer ter amizade, embora muita gente enxergue menos caráter do que sexo, nessas escolhas. Mas não tem o direito de maltratá-las, de achincalhá-las, de persegui-las e muito menos ainda de matá-las.
Cada um na sua
Eu estou muito feliz com a minha heterossexualidade. Acho as mulheres maravilhosas. Acho o corpo feminino mais belo mesmo do que a mais linda paisagem no campo ou na cidade. Se você pensa assim, então é mais um motivo para não se importar com a forma como os outros têm de sentimento diferente de você. Pode até não gostar, não admirar. Mas você tem algo a ver com o que essas pessoas sentem? Então não se intrometa na vida delas. Não lhe diz respeito.
O filme Elisa e Marcela traz um balanço assustador ao final de sua exibição, mostrando que mais de uma dezena de países ainda aplicam a pena de morte no caso de homossexualidade.
Será que a tal humanidade nunca vai evoluir a esse respeito?
É uma reflexão que assusta, por ter ainda que ser feita.
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