Os conceitos de bondade e de amor às vezes confundem a cabeça das pessoas.
E essa história de interpretar a Bíblia ao pé da letra é que atrapalha bastante.
Estamos cansados de ouvir as pessoas, principalmente os pregadores religiosos, espalharem essa história de que “amar é aceitar as pessoas como elas são”.
Pode parecer até que isso é uma forma de manter os casais juntos, de evitar uma separação, mas isso na verdade pode ser a forma de precipitar um rompimento.
Não aceitar tudo não significa brigar.
Vamos a uma situação hipotética: homem e mulher se casam. De repente, a mulher começa a desconfiar das atitudes do marido e descobre que ele a trai com todas as mulheres que ele encontra no seu dia a dia. Tem que aceitar isso? E na situação inversa, em que é o homem que descobre as traições? Caso ame essa mulher, é preciso aceitá-la obrigatoriamente dessa forma como ela age? Não é preciso nem responder, obviamente.
Embora essa pregação de aceitação incondicional venha principalmente de supostos líderes religiosos, ela na verdade se contrapõe e até agride o sentido da própria vida.
Porque, afinal, de que vale a vida se as pessoas não têm como objetivo evoluir?
Isso não significa sacrificar-se, abandonar diversão, deixar de ser feliz.
A pregação de boa parte das religiões é a de que o sacrifício tem que ser a base da evolução. E existe uma coisa muito grave que é colocada na cabeça das pessoas: o tal do pecado. É uma noção destinada apenas a perpetuar a necessidade das pessoas de se manterem presas às religiões.
Pense bem: será que, se a noção de pecado não existisse, as pessoas frequentariam as religiões? Ou pelo menos frequentariam as religiões com a obstinação com que algumas pessoas o fazem?
Qual deve ser, portanto, a diretriz da vida? A de que devemos nos aperfeiçoar e nos tornarmos pessoas melhores a cada dia. E para isso é preciso apenas uma noção que na verdade todo mundo tem: o que é certo e o que é errado.
Não existe definição para isso. Na verdade é difícil definir porque esse conceito é relativo. Mas poderíamos partir inicialmente para uma definição simples: errado é tudo aquilo que só temos coragem de fazer se for escondido. Não é uma definição perfeita, mas já ajuda um pouco. Essa definição não é perfeita não pela definição em si, mas sim porque existem os caras de pau, que erram até por exibicionismo.
Mas os preceitos religiosos e a hipocrisia fazem questão de confundir as coisas. Quer ver um exemplo bem simples? Transar, fazer sexo, é errado? Não, porque existe uma grande diferença entre fazer escondido e buscar a privacidade. O fato de eu não fazer sexo no meio da sala, com crianças assistindo, não significa que eu estou fazendo escondido. Significa apenas que eu estou buscando a privacidade para um contato íntimo que, em princípio, é lógico, pertence apenas a duas pessoas. É um ato de intimidade que dispensa exibicionismo ou compartilhamento com outras pessoas.
Mas com esse exemplo é fácil perceber o quanto as fronteiras das definições são tênues, frágeis, o que cria confusão na cabeça das pessoas, em boa parte das vezes, de forma intencional.
Quer ver o que torna uma relação estável, duradoura, sólida, seja ela de amizade ou de amor? Ou seja: qual o casamento ou a amizade que mais dá certo? Quando duas pessoas se unem ou se relacionam tendo em mente, cada uma delas, que é preciso evoluir, aperfeiçoar-se, individualmente. Sem isso a vida não teria sentido algum.
Divertir-se é errado? Lógico que não. Ir a festas é errado? Obviamente que não. Mas podemos fazer da nossa diversão algo errado dependendo das nossas atitudes. Se eu vou a uma festa, me divirto, converso, danço, dou risadas e conto piadas eu não estou agindo errado. Mas se eu vou a uma festa, procuro briga, bebo demasiadamente e saio dirigindo o meu carro colocando em risco não só a minha vida como a vida de outras pessoas, é lógico que eu estou cometendo um erro (aliás, vários erros) mesmo que esse disparate não cause nenhum acidente.
Então, o errado e o certo são conceitos que as pessoas só ignoram quando querem cometer erros. Mas é perfeitamente fácil identificá-los.
Não aceitar tudo significa compreender que as pessoas têm que se respeitar mutuamente, e compreender sobretudo que viemos ao mundo para evoluir, e não para sermos estátuas.
Quem morre com os mesmos defeitos e imperfeições foi uma pessoa inútil. Não evoluiu nada. Então, para que viver? Que sentido teria a vida? Viver uma vida inútil?
Por isso mesmo, procure não errar. Procure se aperfeiçoar. E esqueça essa história de pecado.
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