Você já percebeu que seu relacionamento fracassou e não consegue deixar de ser refém desse fracasso? Pois então entenda o drama dos reféns de um casamento desfeito. E decida o que fazer.
Eu vou começar contando uma história verdadeira.
Certa vez eu fui a um hospital levar uma amiga que estava sentindo as dores do parto e me deparei com um casal cujo relacionamento já tinha acabado.
A mulher não era jovem. Era já uma senhora, mais ou menos da mesma idade daquele que fazia o papel de marido.
Não, não era uma peça de teatro, nem uma novela, tampouco um filme. Era a vida real.
O suposto marido reage mal
Apesar de grávida, a mulher que aguardava ser atendida, aparentemente já prestes a dar à luz, estava sendo tratada com extrema rispidez pelo suposto marido.
A impaciência e a irritação eram indisfarçáveis. Até porque ele não parecia nem um pouco disposto a disfarçar mesmo.
Agora, perguntamos: num casamento que ainda existe, o homem seria capaz de tratar com extrema rispidez uma mulher que já sentia as dores do parto?
Eu tenho que confessar: senti pena daquela mulher.
Não apenas pela maneira como ela estava sendo tratada numa situação de tanta vulnerabilidade, em quem precisava – no mínimo – de apoio e de compreensão, como também (e, talvez, principalmente) pelo fato de se tratar de uma mulher que já há algum tempo havia se tornado refém de um casamento que não existia mais.
Tranquilo até demais
Conheci também um casal cuja mulher se dizia impressionada com a suposta tranquilidade do marido, mesmo sabendo que ela iria ter um filho naquele exato dia.
Ele é muito tranquilo, insistia em fingir acreditar. Eu, por minha vez, percebi, com absoluta clareza, que aquilo não era tranquilidade, mas sim indiferença.
O nascimento de mais um filho não fazia mais a menor diferença para aquele homem.
E não deu outra: alguns dias depois ele saiu para comprar pão e não voltou mais.
É lógico que tinha levado uma mala com suas roupas e uma passagem no bolso.
E ela nunca mais o viu.
Teatro da vida
Pode parecer que essas são histórias inventadas, mas aconteceram. São reais. Eu presenciei essas duas situações e percebi imediatamente tudo o que estava acontecendo.
Pode parecer também que são duas histórias raras, mas são mais comuns do que você possa imaginar.
Elas representam o caso típico de reféns de um casamento desfeito.
Nesses casos coincidiu que as mulheres eram as reféns de um casamento desfeito. Mas isso acontece também com os homens.
Para não dizerem que eu fui injusto com as mulheres, vou contar outra história verdadeira.
Quando o homem padece
Foi de uma época em que eu costumava recorrer a alfaiates em vez de comprar ternos prontos.
Recorri a um antigo alfaiate e o encontrei extremamente triste. A mulher tinha ido embora. Levou a mobília e os filhos, e ele procurava trabalhar em dobro, na vã tentativa de amenizar o sofrimento que estava enfrentando.
Num momento de desabafo, ele me disse que não era a ausência da mulher que o atormentava tanto, mas sim a solidão intensa que sentia com a ausência dos filhos.
Poucas semanas depois ele morreu.
O drama dos reféns de um casamento desfeito
Existem reféns de um casamento desfeito no mundo inteiro. São situações muito tristes de pessoas que prolongam uma convivência que já não existe mais.
E isso acontece por muitos motivos. Existem os reféns emocionais, os reféns financeiros, os reféns papai/mamãe, que desejam manter a família a qualquer custo por causa dos filhos.
E o que esses reféns normalmente não se dão conta é de que, mantendo-se reféns, eles mergulham cada vez mais nessa situação. Que, evidentemente, um dia pode explodir de forma ainda mais dramática, como foi no caso do alfaiate e da mulher que ficou sozinha para cuidar de um bebê recém-nascido porque o tal marido sumiu no mundo. E, como ele morava de aluguel e não tinha bens materiais de valor, deixou tudo pra trás.
Inclusive a convivência com os outros filhos que tinham nascido muito antes que aquele bebê.
Mulher vive drama dos reféns de um casamento desfeito
A pobre mulher que estava sendo maltratada no hospital pelo marido bem poderia ser um caso típico de dependência financeira.
Sentindo-se sem condições de se sustentar, ela levava adiante uma convivência insuportável em que o suposto marido não se sentia feliz nem com a chegada de mais um filho.
E existem muitas reflexões que podem ser feitas em casos como esses. Será que vale a pena se manter na condição dos que se tornam reféns de um casamento desfeito? Será que é suportável viver nessa condição pela vida toda? Será que isso é viver, no sentido exato da palavra?
Perdas e ganhos a avaliar
A vida tem perdas e ganhos. Os ganhos são festejados e as perdas são lamentadas. Mas será que não é preferível lamentar uma perda do que conviver com essa perda pela vida toda, na condição dos que se colocam como reféns de um casamento desfeito?
O que muitas dessas pessoas se esquecem é de que a vida tem perdas e ganhos, mas, como diz o ditado, a única coisa inevitável e que não tem solução é a morte. Embora, algumas vezes, como já relatamos, esse pode ser o desfecho do drama dos reféns de um casamento desfeito.
Uma mulher que se separa tem direitos. E, ainda que seja insuficiente a pensão que irá receber, não é melhor do que se tornar refém?
Isto sem contar que, por mais que não tenha estudo ou uma profissão, pode conseguir as duas coisas.
Dependência ou vida?
Eu conheço uma mulher que não sabia nem mesmo preencher uma folha de cheque, numa época em que as pessoas ainda aceitavam cheques, até porque nem existiam ainda cartões de débito e de crédito.
Essa não se separou, mas ficou viúva. E aprendeu não só a preencher cheques, como muitas coisas a mais. Ela ficou viúva depois dos 40 anos e veio a falecer aos 92 anos de idade.
Era um caso típico de dependência econômica, mais comum há um tempo atrás, quando as mulheres normalmente se casavam para virarem donas de casa.
Homens carentes se tornam reféns
Mas existem também homens que se tornam reféns de um casamento desfeito. E as razões, como sempre, são as mais variadas possíveis.
Os homens extremamente carentes muitas vezes se casam com mulheres que eles associam à imagem da própria mãe. Essa dependência da figura materna pode fazer com que eles se tornem reféns de um casamento desfeito.
Outros têm dificuldade de se separarem porque acham a mulher muito bonita. Esquecem-se de que mulher bonita é o que não falta no mundo.
Ele sabe disso, mas diz: essa eu já conquistei. Será que conquistou mesmo? E, se conquistou e acha que não pode conquistar outra, então isso é complexo de inferioridade.
Vida que ensina
O que muitas pessoas também se esquecem é de que, agindo como um dos que se tornam reféns de um casamento desfeito, podem estar perdendo a oportunidade de uma vida melhor. Ou de uma nova vida.
Ou seja: tirando de si mesmo a oportunidade de ser feliz novamente.
Se já tiver sentido de fato essa sensação de felicidade, sabe bem o que é isso.
O drama da decisão
Mas, está certo. Tudo o que eu falei, muitos vão dizer, é muito certo e bonito na teoria, mas na prática…
Concordo: perdas são difíceis de se lidar. Separação sempre é complicado. Muitas vezes torna-se um martírio, noites sem dormir, ranger de dentes e choro.
Seguem-se períodos de conturbação mental. De não saber o que fazer. A relação se transforma num vai e vem. Uma hora se afasta. Poucos dias depois se reaproxima. E a parte mais forte na relação se fortalece, enquanto a parte mais frágil se enfraquece mais ainda.
Mas na vida temos que adotar um lema: é melhor uma verdade ruim do que uma mentira boa. Porque, se é mentira, um dia vai se revelar. E se é uma mentira que já sabemos que é mentira, então já se revelou.
E, nesses casos, só nos resta uma pergunta: vale o sacrifício, vale a pena, entrar para o grupo dos que se tornam reféns de um casamento desfeito?
A resposta é com você, se você está passando por essa situação.
Sobre o Autor
0 Comentários