Uma mulher com quem eu me relacionei me dizia que não se deve julgar as pessoas. Mas ela própria vivia julgando. E eu ficava me indagando, diante dessa contradição: como JULGAR nos relacionamentos? E como NÃO julgar?
Inúmeras vezes eu a vi opinando sobre a vida das pessoas, emitindo opiniões. E se manifestando até sobre a maneira de as pessoas se vestirem.
Como NÃO JULGAR nos relacionamentos?
Outra mulher com quem eu me relacionei me disse que nós mesmos não conseguimos nos ver. Quem nos vê são os outros. São os outros que têm condições de apontar nossas qualidades e defeitos.
Nossas vivências determinam nossa maneira de ver
É preciso, em primeiro lugar, entender o seguinte: não existe imparcialidade nos julgamentos.
Todos nós julgamos com uma visão pessoal que nós temos a partir das nossas experiências de vida. E dos filtros que vamos adquirindo no dia a dia, durante a nossa trajetória de vida.
Então, se não somos imparciais quando nos julgamos, é verdade também que não somos imparciais quando julgamos os outros.
Estamos atentos aos nossos filtros?
Sempre existe um filtro através do qual nós olhamos. Ou seja: através do qual nós olhamos os outros e a nós mesmos.
É lógico que podemos detectar defeitos e qualidades em nós mesmos. Assim como isso pode ocorrer em relação também a como enxergamos os outros.
Mas, será que estamos atentos aos filtros que nós usamos para fazer essas avaliações?
Você conhece você? Você conhece o(a) outro(a)
Os seres humanos, normalmente, imaginam que conhecem as pessoas com as quais convivem. Mas, na verdade, elas não conhecem nem a si próprias.
Então, esse nosso filtro sempre é defeituoso, tanto em relação a nós mesmos como em relação aos outros.
Exatamente por isso que um bom psicanalista, que se propõe a ajudar as pessoas, tem antes que passar por longas sessões de psicanálise, para então começar a atender os seus pacientes.
Ele tem que saber conhecer a si próprio, para então começar a conhecer as pessoas que irá atender com o objetivo de ajudá-las a se melhorarem como seres humanos. E a se tornarem mais felizes.
A perfeição está fora do nosso alcance
Ocorre que esse processo é incessante. Nunca termina. Porque nunca atingimos a perfeição.
Por mais que o psicanalista se submeta à psicanálise, ele nunca chegará à perfeição, no sentido de se conhecer totalmente.
Assim como nunca será perfeito no momento de conhecer o outro para poder ajudá-lo.
A perfeição é apenas uma pretensão
O psicanalista tem, evidentemente, que buscar sempre atingir essa perfeição. Mas será muita pretensão dele imaginar-se perfeito.
Porque, já nessa avaliação de si próprio, ele estará cometendo uma imperfeição.
Como JULGAR nos relacionamentos?
Nós olhamos uma pessoa ou um objeto e podemos dizer: é perfeito.
Mas, como podemos dizer que é perfeito, se nós mesmos não temos o dom da perfeição para emitir tal opinião?
Como julgar algo perfeito se o fazemos através do filtro da imperfeição?
Viver é preciso para aprender a navegar no rumo certo
Eu sempre disse, em meus escritos, que a vida só tem algum sentido se sairmos dessa vida sendo menos imperfeitos do que quando entramos.
Em resumo: se vivemos e agregamos, em nós mesmos, inúmeros defeitos, que nós mesmos podemos detectar e reconhecer em nós mesmos, e não nos propomos a corrigir esses defeitos, sairemos dessa vida da mesma forma que entramos.
Não mudar é não poder sonhar com o paraíso
Curiosamente, essa pessoa que me dizia que não devemos julgar os outros não concordava com isso.
Ou seja: na visão dela, ninguém tem a obrigação, ou pelo menos o dever, de se aperfeiçoar ao longo da vida.
Já pensou se todos pensassem assim?
O céu e o inferno, como se diz por aí, que são coisas que só saberemos se existem mesmo se formos para lá, estarão repletos de pessoas que não tiraram da vida nenhuma lição.
JULGAR é o produto da imperfeição?
Apesar de divergir muito dessa mulher, em uma coisa eu concordava: não devemos julgar os outros.
O difícil ou, diríamos mesmo, o impossível, é conseguir.
Porque somos imperfeitos.
Mais uma razão, como se não bastassem tantas, para não julgar os outros.
O único antídoto para isso? A única solução, nos relacionamentos?
O diálogo
Algo tão difícil, não é mesmo?
Exatamente porque todos somos imperfeitos.
Engolir (ou não) as imperfeições em silêncio?
O contrário disso é o silêncio. Engolir as imperfeições, ainda que isso nos irrite.
O que é uma forma de perpetuar essas imperfeições.
Até o momento em que os relacionamentos se interrompem.
E o que era silêncio se transforma em brigas, desentendimentos e até mesmo agressões.
Todos os casais são imperfeitos.
Deveriam refletir sobre tudo isso.
Especialmente se houver amor de fato.
Sobre o Autor
0 Comentários