As pessoas, muitas vezes, não percebem ou até a confundem com sintomas de preguiça. Mas a epidemia silenciosa no Brasil e no Mundo é a depressão, que é bastante preocupante e exige atenção.
Por que chamamos de silenciosa? Porque persiste, até hoje, o estigma em torno de uma doença tratável. E muitos ainda acreditam que não se deve falar no assunto.
Isso somente agrava a situação. Tanto que a depressão é hoje uma das principais preocupações de saúde pública no Brasil e no mundo. E muita coisa precisa mudar.
Tenha em mente o seguinte: quando não tratada, a depressão produz sintomas e resultados negativos nos relacionamentos, no comportamento e na sexualidade da pessoa afetada.
Milhões afetados no Planeta
Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a principal causa de incapacidade global, a condição afeta mais de 300 milhões de pessoas em todo o planeta.
No Brasil, o cenário é igualmente alarmante: o país lidera os índices de diagnóstico de depressão na América Latina, com cerca de 5,8% da população apresentando a condição.
Esse número, que pode parecer pequeno em percentual, representa milhões de indivíduos vivendo com os desafios diários da doença.
O distúrbio é caracterizado por sentimentos persistentes de tristeza, perda de interesse ou prazer em atividades que antes eram apreciadas.
Além disso, surgem alterações no apetite e no sono, e sensações de inutilidade ou sentimento de culpa.
E isso pode ser progressivamente agravado como resultado do comportamento das pessoas com as quais o doente convive.
O desfecho mais trágico da epidemia silenciosa no Brasil e no mundo
Caso a pessoa afetada não se trate, pode entrar para a estatística do possível desfecho mais grave.
E, apesar de os números comprovarem o quanto esse desfecho acontece em todo o mundo, muitas pessoas não se conscientizam da gravidade dessa doença.
E que números são esses, comprovados? De aproximadamente 700 mil pessoas todos os anos.
Este último dado coloca o suicídio como a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, o que evidencia a urgência de medidas globais para lidar com o problema.
Fatores que impulsionam o aumento da epidemia silenciosa
O aumento nos casos de depressão é influenciado por uma combinação de fatores genéticos, ambientais e sociais.
No mundo moderno, o ritmo acelerado da vida, o estresse no ambiente de trabalho, dificuldades de relacionamento e de cunho financeiro, além do isolamento social têm contribuído, significativamente, para o crescimento dos índices.
A pandemia de COVID-19, por exemplo, exacerbou a situação, aumentando os casos de depressão e ansiedade devido ao luto, isolamento, incertezas econômicas e o impacto na saúde física.
No Brasil, problemas estruturais também desempenham um papel crucial.
Desigualdade social, violência, dificuldade de acesso à saúde mental e estigmas associados à busca de ajuda contribuem para o agravamento do problema.
Jovens, mulheres e populações marginalizadas estão entre os grupos mais vulneráveis.
Dados apontam que mulheres têm o dobro de chance de desenvolver depressão em comparação aos homens.
Enquanto isso, é importante lembrar, jovens em ambientes urbanos frequentemente enfrentam pressões sociais e acadêmicas intensas.
Impacto socioeconômico da epidemia silenciosa
A depressão não afeta apenas indivíduos, mas também tem consequências de longo alcance para famílias, comunidades e economias.
Em termos globais, estima-se que a depressão e outros transtornos mentais custem à economia mais de US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade.
No Brasil, trabalhadores com depressão apresentam maiores índices de absenteísmo e presenteísmo (quando a pessoa está fisicamente presente, mas incapaz de desempenhar suas tarefas adequadamente).
Isso, em consequência, compromete o desempenho das organizações.
O custo financeiro também se reflete no sistema de saúde.
Consultas médicas, internações e tratamentos farmacológicos geram despesas significativas, enquanto a falta de investimento em prevenção e conscientização apenas agrava o problema.
Para cada dólar investido em intervenções de saúde mental, há um retorno estimado de US$ 4 em melhoria de saúde e produtividade, reforçando a necessidade de priorizar recursos para essa área.
Avanços e desafios no tratamento
Embora a depressão seja uma condição tratável, menos da metade das pessoas afetadas no mundo recebe os cuidados adequados.
Em países de baixa e média renda, esse percentual cai para menos de 10%, revelando-se extremamente preocupante.
As barreiras incluem falta de profissionais capacitados, infraestrutura inadequada e estigmas associados à busca de ajuda.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece assistência psicológica e psiquiátrica, mas a demanda supera em muito a capacidade dos serviços públicos contratados.
Tratamentos eficazes combinam psicoterapia, medicamentos antidepressivos e intervenções comunitárias.
Nos últimos anos, terapias como a cognitivo-comportamental e a de aceitação e compromisso têm mostrado resultados promissores.
Inovações também estão surgindo progressivamente, como o uso de estimulação magnética transcraniana e terapias baseadas em outros modelos, que ainda estão sendo estudados em ensaios clínicos.
Estigmas e a necessidade de conscientização
O estigma é um dos maiores obstáculos no combate à depressão. E muitos ainda acreditam que nem se deve tocar no assunto, para não causar apreensão.
Mas não é ignorando o problema que ele será resolvido.
Muitas pessoas, a propósoto, evitam buscar ajuda por medo de julgamento ou por associarem a depressão a uma fraqueza de caráter.
Com isso, surge o risco de agravamento da doença, comprometendo a duração do tratamento.
Campanhas de conscientização são essenciais para mudar essa narrativa, promovendo o entendimento de que a depressão é uma condição médica, não uma escolha.
No Brasil, movimentos como o Setembro Amarelo desempenham um papel crucial na educação sobre saúde mental e prevenção ao suicídio.
No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que todos tenham acesso a informações e a cuidados adequados.
O papel da tecnologia e da comunidade
A tecnologia também está se tornando uma aliada no combate à depressão.
Aplicativos de saúde mental, plataformas de terapia online e grupos de apoio virtuais tornaram mais fácil o acesso a recursos para muitas pessoas, especialmente durante a pandemia.
Essas soluções, embora promissoras, devem ser usadas como complementos e não substitutos do tratamento profissional.
Por fim, o apoio da comunidade desempenha um papel vital na recuperação de pessoas com depressão.
Familiares, amigos e redes sociais podem fornecer um ambiente acolhedor e compreensivo, ajudando a reduzir o isolamento e promovendo uma sensação de pertencimento.
Isso surte efeito se as pessoas, finalmente, se conscientizarem de que redes sociais não devem ser usadas, irresponsavelmente, para agressões e invasões de privacidade, como acontece com injustificável frequência.
O desafio é em âmbito global
O atual cenário da depressão no Brasil e no mundo reflete um desafio complexo, mas não insuperável.
Investimentos em saúde mental, redução do estigma e ampliação do acesso a tratamentos são passos cruciais para enfrentar essa epidemia silenciosa.
A conscientização e o apoio comunitário também desempenham papéis fundamentais na construção de um futuro em que a saúde mental seja tratada com a mesma seriedade que a saúde física.
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